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domingo, 19 de julho de 2009

A preto e branco (5)



Vista Alegre
Fotos: Carlos Pádua (1999)

De duas maneiras se pode estar diante de uma janela: de fora, olhando-a, ou de dentro, olhando por ela para fora. Agora estamos nós daqui de fora a olhar esta janela, com vagar e sossego, como convém àqueles que, olhando, querem ver e apreciar, e por este modo vamos percorrendo, neste instante em que o tempo parou, os seus contornos em parte apagados pela folhagem que a envolve, os jogos de luz e de sombra, o labirinto de ramos ali à beira. E assim fica um pouco de nós neste recanto, como em nós fica a sua discreta e singela maravilha, a sua paz. Diferente é o estar de quem está de dentro. Vem à janela e, pelas vidraças, ou abrindo-a, é para além dela que estende o seu olhar, para ver o tranquilo espelho da ria, ou o arvoredo e o casario defronte, ou alguém que passa na rua, ou simplesmente para espreitar como está o tempo. E não faltam ainda as ocasiões em que os olhos, parecendo estar a olhar para fora, estão apenas a ver o que nos vai por dentro.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A preto e branco (4)

Vista Alegre
(Foto: Carlos Pádua, 1999)

Está o portão entreaberto, entremos. Não nos levarão a mal a bem intencionada curiosidade, quem se iria sentir molestado por lhe louvarem a beleza do que é seu? O que de fora se vislumbra apraz ao olhar, mas a curiosidade, essa, não fica apaziguada, há por certo muita coisa que daqui se não vê, e o portão, assim como está, é como um decote fazendo sugestões, perdoe-se-nos o despropósito da comparação. Que o bicho homem (aqui obviamente incluídas as mulheres) sempre assim foi e continuará a ser, não descansa enquanto não vê na totalidade o que apenas se lhe entremostra, e não falta quem insidiosamente explore esta nossa fraqueza, ou virtude, dependerá do ponto de vista, ainda que depois o que antes estava escondido e agora se mostra ao olhar fique aquém do que se esperava. Mas não será esse o caso aqui. Entremos, pois.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A preto e branco (3)

Vista Alegre
(Foto: Carlos Pádua, 1999)


Para lá deste arco não consegue romper o olhar, daqui donde nos encontramos. A imaginação sim, já lá vai, está já construindo imagens na nossa mente. Não tardará que também os passos nos levem um pouco mais adiante, e então veremos se aquilo que os olhos vêem é o mesmo, ou parecido, ou totalmente diferente do que viu a imaginação. Até lá, apreciemos simplesmente o que aos olhos é dado ver, e no fim acharemos por certo que não foi mal gasto o nosso tempo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A preto e branco (2)

A ria, na Vista Alegre
(Foto: Jorge Cunha, 1999)

Que a vista é alegre logo o nome o anuncia a quem chega, e não tarda que os olhos o confirmem. Assim o terá achado quem ao lugar deu o nome que tem, e nisso bem andou, dizemos nós, porque ainda hoje estão em boa harmonia o lugar e o seu nome.